A rasteira de Ricardo
terça-feira, 19 de abril, 2011 por Suetoni Souto Maior às 20:21Em pleno Dia do Índio, hoje, os deputados estaduais armaram uma “pajelança” na Assembleia Legislativa com cara de recado direto para o governo. Recado remetido tanto pela oposição, para dizer que ainda é forte, quanto pela própria base governista, insatisfeita, em certa medida, com o tratamento dispensado pelo Executivo. E foi juntando esses ingredientes que a Casa aprovou, por maioria dos votos, a reeleição do atual presidente Ricardo Marcelo (PSDB), com a antecipação de quase dois danos, para comandar a AL-PB até 31 de janeiro de 2015. Uma manobra desencadeada sem que, antes dela, fosse visto qualquer sinal de fumaça. O resultado disso foi que as previsíveis vozes discordantes da votação foram pegas de calças curtas com o anúncio da entrada do projeto de resolução na pauta. Foi o caso do líder do governo, Lindolfo Pires (DEM), e do deputado Tião Gomes (PSL). Ambos fizeram cara de “mulher traída” após a apresentação da matéria e apelaram para uma possível inconstitucionalidade da votação.
A manobra, apesar de gestada na base de oposição, contou com o apoio massivo de expoentes da base governista. O argumento deles era o de que não faria mal algum manter Ricardo Marcelo no poder, já que o parlamentar integra a bancada “fiel” ao governador Ricardo Coutinho (PSB). Uma visão distinta da cativada pela oposição, que vê na manutenção do tucano uma vacina para o caso de, fortalecido, o gestor socialista decidir emplacar na presidência para o segundo biênio alguém com perfil mais “linha dura”, no estilo do hoje conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE), Arthur Cunha Lima, que comandou a Casa durante o segundo mandato de Cássio Cunha Lima (PSDB). Propósito, inclusive, confessado pelo petista Anísio Maia, momentos depois da votação. A prova disso é que o projeto de resolução foi apresentado pelo oposicionista Arnaldo Monteiro (PSC), que já contava com a assinatura de 24 parlamentares. Resta ao governo entender o porquê de os governistas terem embarcado nessa onda.
Manobra
Os partidários de Ricardo Marcelo tomaram todas as precauções para que a informação não vazasse. Para isso, o Diário do Poder Legislativo (DPL), que disciplina as votações, não circulou no início da sessão de hoje.
Semelhanças
A Mesa Diretora que vai tomar posse no segundo biênio terá uma composição bem parecida com a atual. Uma das poucas mudanças foi a troca de Gilma Germano (PPS) por Léa Toscano (PSB) na 4ª Secretaria da Assembleia Legislativa. A parlamentar do PPS se encontra na Europa e, por isso, não participou da sessão.
Exemplo
A antecipação das eleições para a presidência da Assembleia Legislativa teve origem na história recente durante o mandato de Arthur Cunha Lima (ex-PSDB). O exemplo dele foi irradiado para as Câmaras Municipais. E ainda tem feito escola.
Respeito
Em visita à Baía da Traição, no Litoral Norte, o governador Ricardo Coutinho evitou discurso mais aprofundado sobre a manobra. Ele se reservou a dizer que a Assembleia Legislativa é soberana e senhora de suas decisões.
Vou, não
Não adiantou a vereadora Raíssa Lacerda garantir que abre mão da presidência do PSD para que Raoni Mendes troque o PDT pela legenda. Ele não vai. “Sei como a coisa funciona nesses casos. Ela é filha de um ex-vice-governador e por mais que diga não, será conduzida para um posto de comando no partido”, revelou.
Otimista
Raíssa, por outro lado, é toda sorrisos em relação à nova legenda. Segundo ela, o PSD vai nascer grande, na Paraíba. A parlamentar assegura que até julho o partido estará regularizado. “Não vai existir risco para nenhum dos filiados. Vai haver legenda para quem quiser disputar”, disse.
Concentração
Presidindo a sessão, hoje, o deputado estadual Trocolli Júnior (PMDB) precisou pedir silêncio três vezes aos colegas para que Frei Anastácio (PT) conseguisse concluir o seu discurso. O parlamentar/religioso estava se desconcentrando com o barulho e a falta de atenção dos seus pares.